Barulho de água
1333 – Ana Lee mergulha no melhor da MPB com “Labirinto Azul”, terceiro álbum da carreira*
Disco pode ser comparado a um colar cujas perolas são refinadas canções de consagrados e novos autores e cujos temas que tecem o fio abordam a passagem do tempo, o amor e a desorientação dos dias atuais, em delicada, mas vigorosa interpretação
*Com Sergio Fogaça
A cantora paulistana Ana Lee está de volta trazendo para seu público o álbum Labirinto Azul, o terceiro da carreira, já disponível nas plataformas digitais e também em mídia física, com distribuição confiada à Tratore. Labirinto Azul chega com as bênçãos de músicos como Zeca Baleiro, Swami Jr., Paulo Bira, Lincoln Antonio, Mané Silveira, além de André Magalhães e Itamar Vidal, que participam do disco e coproduziram o trabalho com Ana Lee, entre outros; mescla canções inéditas com outras de autores tradicionais do nosso cancioneiro, trazendo temas diversos, como a passagem do tempo, o amor e a desorientação neste momento histórico que atravessamos em 2020. Cada canção foi escolhida com o acuro que se dedica a extrair do eclético mar da música brasileira pérolas verdadeiras, figurando novos e consagrados autores com refinada poesia, jongo, ciranda, samba, interpretação e arranjos sensíveis e particulares para resultar em um colar de inigualável e de quilate valioso. A beleza da voz e a força interpretativa de Ana Lee conduzem o fio, cuja raridade também resulta da capacidade da intérprete de pensar e de sentir a música na complexa dinâmica da contemporaneidade.
A primeira faixa é Toada, de Zeca Baleiro e Cássio Gava, Baleiro e Ana Lee dividem os microfones e, de certa forma, ampliando e apresentando a cantora para o vasto público do maranhense; o arranjo base é de Bráu Mendonça e Ozias Stafuzza, “companheiros de viagem musical há mais de 20 anos”, como sinalizou a cantora no encarte. Gravada no disco do carioca As Cidades, Xote de Navegação, de Chico Buarque e Dominguinhos, ganhou nova versão com Ana começando à capela e evidenciando sua voz cristalina. A terceira joia, Castelo, de Mário Montaut, traz uma instigante construção poética pontuada com destaque pelo violoncelo de Mário Manga, além de toda instrumentação. O autor participa cantando junto com Ana.
A ourivesaria prossegue com A Página do Relâmpago Elétrico, de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, relida em inspirado arranjo no qual Itamar Vidal respeita com maestria o tempo e intenção da canção. Ana voa! Com o delicioso balanço tão característico desse ritmo, Minha Ciranda, de Stafuzza, é terreno fértil para a interpretação nos conduzir a uma roda imaginária e feliz. Sexta canção, Meia Noite, de Edu Lobo e Chico Buarque, comprova o talento de Ana Lee em pinçar músicas pouco gravadas de grandes compositores; o gigante Swami Jr. a acompanha com seu vigoroso violão. A música que dá título ao álbum, Labirinto Azul, de Lincoln Antonio e Walter Garcia, surpreende com soluções harmônicas pouco convencionais que evidenciam a interpretação, acompanhada pelo expressivo piano de Lincoln.
Mais duas duas canções de Ozias Stafuzza deixam o conteúdo do estojo ainda mais rico. As criativas construções poéticas de Trilhas e Paragens — esta em parceria com Paulo Ciscato, com precisa percussão de André Magalhães, que figura em quase todas as faixas e também coproduziu o álbum, junto com Itamar Vidal. Loucas Noites é um poema de Emily Dickinson que Ana musicou, destacando, mais uma vez, a palavra escrita em pura alquimia sonora. Só com percussões e voz, num canto forte e seguro, O Amor é uma Droga Pesada vem em seguida: trata-se de mais um poema, agora de Maria Rita Kehl, musicado por Antonio Herci. O batuque anuncia o Jongo Tradição I, de Lincoln Antonio, Walter Garcia, Marcelo Mota Monteiro e Paulo Maymone como a entoar “Salve nossos ancestrais” e o coro de várias idades que marca também a tradição oral do ritmo. A delicadeza no samba encerra, cheio de tempero, esse consistente e luminoso baú de interpretação e apuro musical. A chave de ouro é Lagoa Funda, mais uma pedra preciosa lapidada por Stafuzza.
Desde a infância, a cantora paulistana Ana Lee sempre foi intensamente influenciada pelas preferências artísticas tanto da família, como de professores como Ricardo Rizek, já mais tarde um pouco, no início da vida adulta. Considera que seu canto é mais intuitivo do que técnico, apesar de ter feito aulas de canto. A atenta escuta musical de seus intérpretes favoritos da música brasileira foi sua grande escola e nela leu nos livros de Chico Buarque, Tom Jobim, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Edu Lobo, Ivan Lins, Dorival Caymmi, João Gilberto, Paulinho da Viola, do Clube da Esquina de Milton Nascimento, Beto Guedes e Lô Borges, entre outros; do Boca Livre, e ainda de cantoras como Gal Costa, Zizi Possi, Maria Bethânia, Nana Caymmi, Elis Regina, Jane Duboc, além dos paulistanos José Miguel Wisnik, Grupo Rumo e Ná Ozzetti, entre outros.
Ana Lee cursou faculdade de Psicologia paralelamente a muitos cursos de Psicanálise, e, aos 27 anos, conheceu o violonista Bráu Mendonça, com quem imediatamente se estabeleceu uma profícua parceria musical iniciada profissionalmente com shows pela Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo, em casas de cultura pela cidade. Em seguida, através de Bráu, conheceu Stafuzza, firmando-se então um trio criativo que dura até hoje, inclusive neste último trabalho da intérprete.
O álbum de estreia foi lançado em 2002, intitulado Ana Lee, com produção de André Magalhães. Um dos principais destaques desse disco é a canção O que será – À flor da Pele, de Chico Buarque, gravada só com o baixo acústico de Célio Barros, até hoje muito executada. Com esse trabalho abriu-se a porta para muitos shows em casas de espetáculo como Sesc Pompeia e Consolação, Centro Cultural São Paulo, bibliotecas públicas, livrarias em São Paulo e Barra, no Rio de Janeiro, e o projeto As Faces de Eva, nas unidades do Sesc Belenzinho, Ipiranga e Santo André.
O segundo CD foi lançado pela Lua Discos, em 2009, intitulado Minha Ciranda. O destaque é uma canção que Guarabyra sugeriu que ela cantasse; depois ele participou do show de lançamento, no Sesc Ipiranga. A turnê do álbum ainda percorreu outros palcos, como Casa das Rosas e os das livrarias paulista e carioca.
O álbum físico Labirinto Azul pode ser adquirido em lojas virtuais líderes deste segmento. Para saber mais a respeito de Ana Lee o canal é https://www.youtube.com/user/Cantanteprodu1 Site: www.analee.com.br
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